Passados sete meses desde o início da pandemia no país, a situação financeira das micro e pequenas indústrias paulistas voltou a piorar e o setor ainda tem restrições para acessar crédito, quadro agravado pelo encarecimento geral de bens intermediários usados na produção. Segundo pesquisa encomendada pelo Simpi-SP (Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo) ao Datafolha, 87% das empresas consultadas enfrentam dificuldades devido à alta de matérias-primas e insumos.Mais da metade (56%) dos micro e pequenos empresários industriais ouvidos afirma que esses produtos estão em falta nos fornecedores e que há atraso nas entregas (55%). Segundo 20% deles, houve problemas em razão da compra de insumos de qualidade inferior. “Estamos tendo desabastecimento, com quebra da cadeia produtiva, atraso na produção e elevação substancial de custos”, relata o presidente do Simpi-SP, Joseph Couri.Em sua visão, a escassez não foi causada pelo aquecimento da demanda com a retomada em “V” da economia, como vem defendendo a equipe econômica, mas sim porque muitas empresas no meio da cadeia fecharam as portas em meio à recessão.De acordo com a pesquisa do sindicato, 28% das indústrias de micro e pequeno porte de São Paulo tiveram algum fornecedor que faliu ou entrou em recuperação judicial desde o começo da pandemia. “Com o fechamento de fornecedores, não vejo como esse quadro de pressão de custos e falta de insumos pode mudar nos próximos meses”, diz Couri.Em razão dos bens intermediários mais caros e escassos, mais de um terço dos industriais (36%) apontou ter dificuldade para atender pedidos no prazo solicitado pelos seus clientes. Entre as pequenas empresas, esse índice chega a 65%.O levantamento, antecipado ao Valor, ouviu 261 empresas de 23 a 29 de setembro.Nesse período, houve aumento de seis pontos percentuais, para 26%, na parcela de indústrias que avalia sua situação financeira como ruim ou péssima. A rodada anterior da enquete foi feita entre os dias 10 e 16 do mesmo mês.Já a fatia de empresários que aponta a saúde financeira dos negócios como regular caiu de 45% para 40% na mesma comparação. Aqueles que veem esse quesito como bom ou ótimo são 34% do total, um ponto percentual abaixo da última medição.Para Couri, a percepção mais negativa do empresariado reflete uma conjunção de fatores que não têm melhorado. Desde o começo da crise, a maior parte das micro e pequenas indústrias paulistas vem relatando dificuldades para conseguir empréstimos, seja das linhas emergenciais do governo, seja das tradicionais de bancos, o que não mudou no fim de setembro, destaca ele.Na edição atual da pesquisa, 79% dos empresários industriais declararam que não estão conseguindo crédito para manter suas operações, contra 12% que tiveram acesso a capital de giro novo e 7% que disseram estar usando linhas que a empresa já tinha.Uma consequência ruim do crédito restrito é o uso de modalidades com juros mais altos, que acaba por piorar ainda mais a situação financeira das indústrias, observa o presidente do Simpi. No fim de setembro, 23% dos industriais consultados disseram ter utilizado o cheque especial no mês anterior.Diante desse cenário, o empresário diz ver com preocupação a volta em outubro da cobrança da maior parte dos impostos adiados ou suspensos pelo governo devido à pandemia. No levantamento do Simpi, 21% dos entrevistados afirmam que não têm condições de pagar essas obrigações, e 25% dizem que conseguirão arcar com apenas parte delas.“Agora será preciso pagar a parcela do mês atual e um pedaço do que ficou para trás”, observa Couri, para quem a retomada em “V” em alguns setores não está sendo verificada na micro e pequena indústria. Evidência disso, de acordo com ele, é que 24% das fábricas ouvidas no último levantamento têm capacidade de produção menor do que antes da pandemia. Em 65% delas, houve manutenção nessa comparação.