Com o juro num patamar historicamente baixo, a indústria de fundos tem flexibilizado o acesso a produtos sofisticados que antes exigiam capital mais volumoso. Fundos de private equity (PE), venture capital (VC), de infraestrutura e reestruturação de dívidas começam a ser distribuídos em plataformas de investimentos com tíquetes de entrada a partir de R$ 100.São fundos que investem em empresas ou projetos de longa duração, com baixa liquidez, risco elevado, mas que prometem rentabilidade anual média de 20%. Mas, apesar de estarem mais acessíveis, por regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), esses fundos só podem ser oferecidos a investidores qualificados (que possuem mais de R$ 1 milhão líquido) e são indicados para diversificação de carteira.A ampla adesão deste público tem animado as gestoras que, de 2020 para cá, vêm colocando cada vez mais produtos na prateleira. “Este movimento veio para ficar. Os investidores começam a entender melhor os riscos e as oportunidades desses investimentos, que são bem menos voláteis do que a bolsa”, afirma Renato Mazzola, sócio e head de private equity do BTG Pactual.A asset já lançou oito fundos com essas características, com captação total de R$ 9,5 bilhões. O último foi o BDIV 11, de infraestrutura para pagamento de dividendos, e está investido em quatro empresas do setor elétrico. Lançado em novembro do ano passado, captou R$ 850 milhões e tem 4 mil investidores. A cota de entrada foi de R$ 103.“Estamos começando a captação do BTG Pactual FIP Investimentos de Impacto, que vai até junho e irá investir em seis empresas. Uma delas é a Gran Cursos. O retorno previsto é de 20% ao ano e o tíquete mínimo é de R$ 100 mil”, diz Mazzola. No radar do executivo também está previsto um fundo de VC em junho, que irá aportar recursos em dez empresas de menor porte. A pretensão é captar R$ 500 milhões e a cota será vendida a partir de R$ 50 mil. “Como estamos trazendo mais pessoas físicas para dentro dos fundos, encurtamos a duração do investimento de dez parasete anos", conta Mazzola.Apostando forte neste mercado, a XP lançou no mês passado uma plataforma específica para distribuição de fundos alternativos. São dez fundos, sendo quatro próprios, com volume total de R$ 4 bilhões e mais de 10 mil investidores. “A plataforma traz produtos com alto valor agregado. Algo nada convencional. Assim como fizemos com os fundos internacionais, esta é mais uma das frentes que vamos priorizar”, conta José Tibães, sócio e head de fundos da XP Investimentos.O executivo admite, no entanto, que, por serem produtos mais complexos, existe um desafio educacional pela frente e não recomenda que o investidor aporte mais do que 5% do seu patrimônio líquido nesses fundos. Isso por conta do risco de alguma empresa investida não ‘performar’ como o esperado.“Daí a necessidade de buscar um bom gestor. Acabamos de lançar um fundo de fundos, que está em captação, busca patrimônio de R$ 1 bilhão e vai investir em gestores de PE, de VC e de outros fundos alternativos. O tíquete de entrada é a partir de R$ 50 mil”, diz Tibães. O primeiro fundo de PE com distribuição ampla da XP foi lançado em fevereiro de 2021, atraiu 5 mil cotistas, captou R$ 1,2 bilhão e está investido em cinco empresas. O retorno prometido é IPCA + 20% ao ano, durante dez anos.A Vinci e a EB Capital são exemplo de casas que estão distribuindo seus fundos de PE na plataforma da XP. Em outubro de 2020, a EB Capital lançou o seu fundo para investir em seis empresas de fibra óptica que atuam em cidades pequenas e médias. A captação foi de R$ 2 bilhões e o retorno alvo é de 25% ao ano.“Tivemos quase três vezes mais demanda do que a oferta. 60% do fundo foram para mais de cinco mil pessoas e 40 %, para investidor institucional”, conta Eduardo Melzer, CEO da asset. “Neste semestre, vamos lançar mais dois fundos com distribuição ampla. Um deles terá duração menor, pelo estágio das companhias que irá investir. A captação deve ficar entre R$ 500 milhões e R$ 1 bilhão”, diz Melzer.Dos R$ 12 bilhões que tem sob gestão, R$ 1 bilhão a Vinci captou na plataforma da XP, com o Vinci Impacto Retorno 4, que promete retorno de 25% ao ano e está investindo em empresas comprometidas com boas práticas socioambientais e de governança (ESG, na sigla em inglês).“Fazemos seleção setorial que privilegia esses aspectos e criamos planos de desenvolvimento para que as companhias melhorem suas práticas de ESG no longo prazo. O fundo está em duas empresas. A meta é chegar a dez”, afirma Bruno Zaremba, sócio da Vinci Partners e head da área de private equity. Animada com a experiência, a Vinci deve lançar mais dois fundos de PE com distribuição ampla até junho. “Um na área de infraestrutura e o outro na de saneamento”, conta.<br/><b>Valor Econômico</b>
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